sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tudo é vida, irmão

Tudo é parte de um todo de sem par grandeza,
Cuja alma é Deus, e cujo corpo é a Natureza;
Que por tudo se muda e em tudo é o mesmo ainda,
Grande na terra e na amplidão etérea infinda;
Refresca a nós na brisa, a nós no sol aquece,
Brilha nos astros, e nas árvores floresce
Por toda vida vive, a todo alcance alcança,
Se espalha e não se parte, opera e não se cansa,
Sopra a alma e molda a carne, esse mortal quinhão,
Pleno e perfeito, num cabelo ou coração;
Pleno e perfeito, quer num homem vil que chora,
Quer no elevado serafim que ardendo adora;
Para ele não há baixo ou alto ou grande ou miúdo;
Ele nutre, restringe, liga e iguala tudo.

Cessa! Nem à ORDEM chames mais imperfeição:
No que acusamos se acha a nossa salvação.
Vê teu limite: esta porção justa e devida
De cegueira e fraqueza a ti é concedida.
Sujeita-te... Ou nesta, ou em qualquer esfera,
Garante as bençãos todas que teu ser tolera,-
Sempre a salvo na mão do só Dispensador,
Na hora do nascimento ou na hora em que se for.
A natureza toda é uma arte ignota a ti;
Todo acaso, desígnio, que não vês aqui;
Toda discórdia, uma harmonia que ouves mal;
E todo mal parcial, o bem universal:
Malgrado o orgulho, o raciocínio pouco aberto,
Uma verdade é clara: TUDO O QUE É, É CERTO.


Alexander Pope
Ensaio sobre o homem
(Epístola I, vv. 264-294)

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