terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ode aos mortos

Sento aqui e aprecio a passeata dos mortos, cambaleante pela avenida da Memória, sonora, insípida, inodora, ó, para sempre, quem sabe, pelo menos, não é a avenida das Saudades, aquela pela qual de fato passaremos, pessoa física, ou ainda enquanto, naquele momento, pré, já matéria em transformação, mutante, caminhante, indo, na direção do que não sabemos porque não sabemos nem antevemos.
Não é ainda a avenida da Saudade. É apenas uma visão de quem, vivo, olha que mortos vieram e fizeram, e talvez isso não faça diferença. Mozart não fará diferença no dia em que a raça humana desaparecer do planeta. É tamanho absurdo a existência que temos que nos conformar com as caixas que nos deram para por as ideias. Bom, temos uma caixa aqui para definir quem você é a sua vida toda, do berço a avenida da Saudade. Não quebre a caixa. Não estilhace o vidro. Não chore.
O inconformismo é humano, é incontido, nada que discursos políticos possam abarcar, porque o populismo nos derrotou todos, somos todos bolsa-familiados, dependendes, esperando ajuda externa de gente que não mora na filosofia. Mora na rua da Amargura, no beco do Desespero, da Desolação.
Alguém aí está vendo o sinal? Alguém que é puro o suficiente está vendo o sinal dos céus nesta desolação da desolação que possa traduzir os signos? Ou simplesmente é simples assim: se não vai sobrar nada desta empreitada humana, por que tanta complicação?