Tudo começou com uma fita cassette Mallory branca. Meu pai comprou o que na época se chamava aparelhagem de som: um amplificador Polyvox, um toca-discos Garrard, toca-fitas do qual não me lembro a marca e duas caixas (Gradiente?). Observei de longe o técnico de Ribeirão Preto montar a maravilha num baú. Como irmão menor não estava autorizado a mexer na "aparelhagem". O equipamento anterior havia sido uma Sonata "portátil" na qual se destruia a "Jovem Guarda". Era um tremendo avanço. E a música havia avançado muito mais. Era o começo dos anos 1970. Aquela Guarrard não tinha ideia do que a esperava.
Eduardo e Marcelo não eram compradores de discos. Então começaram a chegar as bolachas dos amigos - Junão, Jorginho -, gravadas experimentalmente no que seria uma versão primitiva da "pirataria" que viria depois avassaladora com a internet. A indústria fonográfica odiava as fitas cassettes virgens, porque elas distribuiam a música muito além do que se poderia cobrar e do que nós poderíamos pagar. Era uma espécie de intranet dos conhecedores, passada de mão em mão. As gravadoradas reclamavam, mas o mercado demandava. Muitas marcas. TDK, japonesa, a mais cobiçada, qualidade insuperável, Basf, Maxell. E apareceu aquela Mallory branca.
Era um apanhando variado. Uma fotografia do período. "Hello Hooray", de Alice Cooper. Partes essenciais de "Close to the Edge", do Yes. "Little Martha", dos Allman Brothers, fechando um lado. E em algum ponto "Get Down Get With it", do Slade.
Havia mais, mas o cenário estava traçado. De certa forma, essa fita traçou um plano para a minha vida musical para os próximos anos. Alice Cooper veio ao Brasil naquela época e ajudou a criar um fanatismo que não durou muito.
Quando, ao contrário dos meus irmãos, eu comecei a dar meu dinheiro para a indústria fonográfia (um vício difícil de largar), um dos primeiros discos que comprei foi "Slade in Flame", ainda com a grandeza estupenda de "Get Down Get With it" na cabeça, a fórmula perfeita do rock and roll.
Claro que me arrependo até hoje de, anos depois, na arrogância progressiva intelectual boçal ter me livrado desse disco, que é espetacular. Mas o processo tem que ser visto na sua evolução mental, que não quer dizer avanço, quer dizer que você tem que fazer besteiras para aprender.
Um dia, vinha no carro e ouvi Jon Anderson, do Yes, cantando "How Does it Feel", a canção que abre "In Flame". A conta fechou. Não é preciso odiar bandas como Slade para amar bandas como Yes.
E eu virei um fanático pelo Yes. "Close to the Edge" da fita branca me levou para "Relayer", depois para "Tales from Topographic Oceans", quatro músicas em dois discos, das quais eu decorei as letras, que eu não sei o que significam até hoje. Era um mundo de sonhos.
"Get Down Get with it" quer dizer isso. É uma bomba atômica. Em três minutos liquida os 80 minutos dos Oceanos Topográficos. Marinho vai discordar. Mas se fôssemos adolescentes de novo a que show iríamos?
sábado, 18 de dezembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Ode aos mortos
Sento aqui e aprecio a passeata dos mortos, cambaleante pela avenida da Memória, sonora, insípida, inodora, ó, para sempre, quem sabe, pelo menos, não é a avenida das Saudades, aquela pela qual de fato passaremos, pessoa física, ou ainda enquanto, naquele momento, pré, já matéria em transformação, mutante, caminhante, indo, na direção do que não sabemos porque não sabemos nem antevemos.
Não é ainda a avenida da Saudade. É apenas uma visão de quem, vivo, olha que mortos vieram e fizeram, e talvez isso não faça diferença. Mozart não fará diferença no dia em que a raça humana desaparecer do planeta. É tamanho absurdo a existência que temos que nos conformar com as caixas que nos deram para por as ideias. Bom, temos uma caixa aqui para definir quem você é a sua vida toda, do berço a avenida da Saudade. Não quebre a caixa. Não estilhace o vidro. Não chore.
O inconformismo é humano, é incontido, nada que discursos políticos possam abarcar, porque o populismo nos derrotou todos, somos todos bolsa-familiados, dependendes, esperando ajuda externa de gente que não mora na filosofia. Mora na rua da Amargura, no beco do Desespero, da Desolação.
Alguém aí está vendo o sinal? Alguém que é puro o suficiente está vendo o sinal dos céus nesta desolação da desolação que possa traduzir os signos? Ou simplesmente é simples assim: se não vai sobrar nada desta empreitada humana, por que tanta complicação?
Não é ainda a avenida da Saudade. É apenas uma visão de quem, vivo, olha que mortos vieram e fizeram, e talvez isso não faça diferença. Mozart não fará diferença no dia em que a raça humana desaparecer do planeta. É tamanho absurdo a existência que temos que nos conformar com as caixas que nos deram para por as ideias. Bom, temos uma caixa aqui para definir quem você é a sua vida toda, do berço a avenida da Saudade. Não quebre a caixa. Não estilhace o vidro. Não chore.
O inconformismo é humano, é incontido, nada que discursos políticos possam abarcar, porque o populismo nos derrotou todos, somos todos bolsa-familiados, dependendes, esperando ajuda externa de gente que não mora na filosofia. Mora na rua da Amargura, no beco do Desespero, da Desolação.
Alguém aí está vendo o sinal? Alguém que é puro o suficiente está vendo o sinal dos céus nesta desolação da desolação que possa traduzir os signos? Ou simplesmente é simples assim: se não vai sobrar nada desta empreitada humana, por que tanta complicação?
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Na adunca daquele rio
Na adunca daquele rio
fez-se um brejo criativo
de tão fixo o paraiso
a idéia afundou no piso
Então se fez feliz assim
Vida, ciclo, egoísmo
flores secas sem sentido
da pasmeira fez-se vida
da maneira viveu-se triste
Então se fez feliz assim
Sei que este lugar esta em mim
Mas vou porque de longe sou mais feliz
Por um triz não foi aquilo
e divide o prejuízo
Na sua fala o R é visto
O caipira inibido
Então se fez feliz assim
Em um mundo sem conflito
fica claro seu destino
Sempre carregará consigo
essa marca de nascido
Então se fez feliz assim
Sei que este lugar esta em mim
Mas vou porque de longe sou mais feliz
fez-se um brejo criativo
de tão fixo o paraiso
a idéia afundou no piso
Então se fez feliz assim
Vida, ciclo, egoísmo
flores secas sem sentido
da pasmeira fez-se vida
da maneira viveu-se triste
Então se fez feliz assim
Sei que este lugar esta em mim
Mas vou porque de longe sou mais feliz
Por um triz não foi aquilo
e divide o prejuízo
Na sua fala o R é visto
O caipira inibido
Então se fez feliz assim
Em um mundo sem conflito
fica claro seu destino
Sempre carregará consigo
essa marca de nascido
Então se fez feliz assim
Sei que este lugar esta em mim
Mas vou porque de longe sou mais feliz
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sexta-feira, 16 de julho de 2010
Tudo é vida, irmão
Tudo é parte de um todo de sem par grandeza,
Cuja alma é Deus, e cujo corpo é a Natureza;
Que por tudo se muda e em tudo é o mesmo ainda,
Grande na terra e na amplidão etérea infinda;
Refresca a nós na brisa, a nós no sol aquece,
Brilha nos astros, e nas árvores floresce
Por toda vida vive, a todo alcance alcança,
Se espalha e não se parte, opera e não se cansa,
Sopra a alma e molda a carne, esse mortal quinhão,
Pleno e perfeito, num cabelo ou coração;
Pleno e perfeito, quer num homem vil que chora,
Quer no elevado serafim que ardendo adora;
Para ele não há baixo ou alto ou grande ou miúdo;
Ele nutre, restringe, liga e iguala tudo.
Cessa! Nem à ORDEM chames mais imperfeição:
No que acusamos se acha a nossa salvação.
Vê teu limite: esta porção justa e devida
De cegueira e fraqueza a ti é concedida.
Sujeita-te... Ou nesta, ou em qualquer esfera,
Garante as bençãos todas que teu ser tolera,-
Sempre a salvo na mão do só Dispensador,
Na hora do nascimento ou na hora em que se for.
A natureza toda é uma arte ignota a ti;
Todo acaso, desígnio, que não vês aqui;
Toda discórdia, uma harmonia que ouves mal;
E todo mal parcial, o bem universal:
Malgrado o orgulho, o raciocínio pouco aberto,
Uma verdade é clara: TUDO O QUE É, É CERTO.
Alexander Pope
Ensaio sobre o homem
(Epístola I, vv. 264-294)
Cuja alma é Deus, e cujo corpo é a Natureza;
Que por tudo se muda e em tudo é o mesmo ainda,
Grande na terra e na amplidão etérea infinda;
Refresca a nós na brisa, a nós no sol aquece,
Brilha nos astros, e nas árvores floresce
Por toda vida vive, a todo alcance alcança,
Se espalha e não se parte, opera e não se cansa,
Sopra a alma e molda a carne, esse mortal quinhão,
Pleno e perfeito, num cabelo ou coração;
Pleno e perfeito, quer num homem vil que chora,
Quer no elevado serafim que ardendo adora;
Para ele não há baixo ou alto ou grande ou miúdo;
Ele nutre, restringe, liga e iguala tudo.
Cessa! Nem à ORDEM chames mais imperfeição:
No que acusamos se acha a nossa salvação.
Vê teu limite: esta porção justa e devida
De cegueira e fraqueza a ti é concedida.
Sujeita-te... Ou nesta, ou em qualquer esfera,
Garante as bençãos todas que teu ser tolera,-
Sempre a salvo na mão do só Dispensador,
Na hora do nascimento ou na hora em que se for.
A natureza toda é uma arte ignota a ti;
Todo acaso, desígnio, que não vês aqui;
Toda discórdia, uma harmonia que ouves mal;
E todo mal parcial, o bem universal:
Malgrado o orgulho, o raciocínio pouco aberto,
Uma verdade é clara: TUDO O QUE É, É CERTO.
Alexander Pope
Ensaio sobre o homem
(Epístola I, vv. 264-294)
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Alexander Pope
terça-feira, 29 de junho de 2010
Tempo regulamentar esgotado
Estamos nos comportando com novos ricos. Em todos estes anos de democracia, que são quase nada, parece não ter havido nenhum avanço na civilidade. Continuamos o mesmo povo mesquinho, egoísta, medíocre e mentiroso. O avanço foi só econômico; números e estatísticas. Estamos inebriados pelo produto interno bruto, pela bolha financeira, aspectos externos de desenvolvimento, mas a essência, o resultado líquido ainda está no vermelho. Se tudo isso explodisse de uma hora pra outra não sobraria nada de substancial: só escombros na ex-nova era de pujança. "Mas as mudanças culturais levam mais tempo", diria o crente progressista. Mais tempo? Quanto tempo mais temos que nos aguentar, que conviver com esta mistura rançosa de poder e corrupção, de malandragem e indolência, de ignorância e incompetência? Mais 500 anos? Mais uma eleição? Até a próxima Copa? Quanto tempo mais?
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Pra frente
domingo, 11 de abril de 2010
domingo, 14 de março de 2010
In Vain
Nada há de ser em vão
Irmão
Com cordas e frequências
Com ventos e sonolências
Com posses e advertências
Com dentes e vivências
Nada há de ser em vão
Irmão
Sem som e experiêcia
Sem trago e pungência
Sem ganho e dependência
Sem hendrix e inteligência
Nada há de ser em vão
Irmão
Mas venha a decência
Mas seja a clemência
Mas veja a tendência
Mas se dê a influência de você
Nada há de ser em vão
Irmão
Nem pasta e ciência
Nem Cosmo e Damião
Nem tiro e demência
Nem bacia e liquidação
Nada há de ser em vão
Irmão
Por pandas e urgências
Por flores e estação
Por sexo e prudência
Por pura e intenção
Mas venha a tendência
Mas seja a influência
Mas veja a clemência
Mas se dê a decência de você
Nada há de ser em vão
Irmão
Para luz e intendência
Para onda e furacão
Para fina e luzência
Para peito e sermão
Nada há de ser em vão
Irmão
Onde sobra e diligência
Onde cinza e ilusão
Onde pessoa e aparência
Onde queira e não
Nada há de ser em vão
Irmão
Mas venha, seja, veja e se dê...
Porque o que se leva desta vida é a vida que foi levada por você!
Irmão
Com cordas e frequências
Com ventos e sonolências
Com posses e advertências
Com dentes e vivências
Nada há de ser em vão
Irmão
Sem som e experiêcia
Sem trago e pungência
Sem ganho e dependência
Sem hendrix e inteligência
Nada há de ser em vão
Irmão
Mas venha a decência
Mas seja a clemência
Mas veja a tendência
Mas se dê a influência de você
Nada há de ser em vão
Irmão
Nem pasta e ciência
Nem Cosmo e Damião
Nem tiro e demência
Nem bacia e liquidação
Nada há de ser em vão
Irmão
Por pandas e urgências
Por flores e estação
Por sexo e prudência
Por pura e intenção
Mas venha a tendência
Mas seja a influência
Mas veja a clemência
Mas se dê a decência de você
Nada há de ser em vão
Irmão
Para luz e intendência
Para onda e furacão
Para fina e luzência
Para peito e sermão
Nada há de ser em vão
Irmão
Onde sobra e diligência
Onde cinza e ilusão
Onde pessoa e aparência
Onde queira e não
Nada há de ser em vão
Irmão
Mas venha, seja, veja e se dê...
Porque o que se leva desta vida é a vida que foi levada por você!
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Irmão
quinta-feira, 11 de março de 2010
Humor
Sempre estou de bom humor
Mesmo nos piores momentos
Mesmo quando não me aguento
Chuto a porta, mordo o cachorro
Ranjo os dentes, fico louco
Sempre conto até dez
Quando brigo no trânsito
Quero matar alguém
Grito e esperneio e buzino
Quebro tudo, passo o sinal
Sempre vejo o lado bom
Se meu time perde
No último minuto
Penso comigo, como é bonito
O esporte bretão
Meu humor é inabalável
Sou um sujeito estável
O padrão do bom-mocismo
O fino no trato
Sempre sou mui educado
Mesmo quando respondo
Ah (lê-se: Vá se catar)
Bom pra você
Não quero nem saber
Mesmo nos piores momentos
Mesmo quando não me aguento
Chuto a porta, mordo o cachorro
Ranjo os dentes, fico louco
Sempre conto até dez
Quando brigo no trânsito
Quero matar alguém
Grito e esperneio e buzino
Quebro tudo, passo o sinal
Sempre vejo o lado bom
Se meu time perde
No último minuto
Penso comigo, como é bonito
O esporte bretão
Meu humor é inabalável
Sou um sujeito estável
O padrão do bom-mocismo
O fino no trato
Sempre sou mui educado
Mesmo quando respondo
Ah (lê-se: Vá se catar)
Bom pra você
Não quero nem saber
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quarta-feira, 3 de março de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
sábado, 13 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Me poupe
Adílson Galdino
Já se passaram os tempos das descobertas,
Hoje nós reinventamos tudo.
Biotônico on the rocks,
Mangueira, mangueirinha,
Mãe da Guinha.
Me poupe, me poupe, me poupe.
Registros gerais,
CICs, CPFs,
Identificações federais,
Marcas e patentes,
Códigos de barra
Me poupe, me poupe, me poupe.
Comida light,
Produtos dietéticos,
Coisas naturais.
Água mineral, transgênicos,
Dolly's e Mussum.
É molis?
Me poupe, me poupe, me poupe.
Transforme tudo.
Invente, crie,
Jogue tudo no ventilador,
Deixe que o mundo saiba.
Só me poupe de seu falso pudor
Me poupe, me poupe, me poupe.
Já se passaram os tempos das descobertas,
Hoje nós reinventamos tudo.
Biotônico on the rocks,
Mangueira, mangueirinha,
Mãe da Guinha.
Me poupe, me poupe, me poupe.
Registros gerais,
CICs, CPFs,
Identificações federais,
Marcas e patentes,
Códigos de barra
Me poupe, me poupe, me poupe.
Comida light,
Produtos dietéticos,
Coisas naturais.
Água mineral, transgênicos,
Dolly's e Mussum.
É molis?
Me poupe, me poupe, me poupe.
Transforme tudo.
Invente, crie,
Jogue tudo no ventilador,
Deixe que o mundo saiba.
Só me poupe de seu falso pudor
Me poupe, me poupe, me poupe.
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Adílson Galdino
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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